O nosso entrevistado vem diretamente de Barcelona, mas não aquela na Espanha, e sim, a Barcelona no interior do Rio Grande do Norte.
Geová Rodrigues é mundialmente conhecido por sua colaboração na indústria da moda através do upcycling. A prática da reciclagem vem de gerações. Geová pontua que a sua mãe já repaginava coisas da casa, como as panelas de ágata antigas que viravam vasos de flores. Assim como as roupas dos irmãos mais velhos, trazendo a novidade para os mais novos.
Recorda do Rio Grande do Norte com carinho, onde teve os primeiros sonhos, a primeira notícia de moda, quando ouviu falar sobre Dener Pamplona e Clodovil, onde também se conectou com a música, o teatro e a política. Relembra Barcelona como o começo, mas se considera como um “senhor do mundo”.
Geová ganhou o mundo nos anos 80s ao tentar a vida em São Paulo. Começou como artista plástico, fazendo exposições da Conexão Urbana entre Rio de Janeiro e São Paulo.
Sempre fomentando a reciclagem, os descartes da badalada rua Oscar Freire serviam de matéria prima para suas obras. Em uma das exposições, um empresário paulista arrematou tudo e, com esse dinheiro, Geová seguiu para Paris, em seguida foi morar nos Estados Unidos, e vive em Nova York, mas especificamente no bairro East Village, região que o acolheu de bom grado. Conhecido como berço da cena underground, o East Village serviu de ponto de partida para artistas como Madonna e Andy Warhol.
Em 1998, Geová Rodrigues fez debut na moda diretamente da Nova York Fashion Week.
“Nesses 20 anos de moda, passei a ser mais confiante, me lapidei bastante e aprendi mais técnicas para o meu trabalho. Tudo mudou, mas a essência é a mesma. Hoje, as grandes marcas falam sobre de onde a roupa é feita, por quem é feita e isso é muito bacana. Nome e endereço para os artistas e estilistas. A única coisa que eu acho até melhor agora, é que não fico naquela carência de pertencimento. Eu vou ao Brasil, Japão e Paris, e faço um pop-up. É um circo, me considero um estilista de circo. Armo minha barraca em qualquer lugar, mas tenho meu ateliê aqui no East Village. Eu não me preocupo muito com esses movimentos, só me preocupo de ficar trabalhando. Dou notícia para o mundo através da internet, mas continuo a mesma coisa, antes eu tinha 20, agora estou com 50 anos. Mas meu trabalho segue na mesma energia”, brinca o designer.
Geová procura viver a magia do momento e se reinventa através das suas criações. Seus materiais, eram descartes de grandes marcas como a Donna Karan e Calvin Klein, por exemplo.
“Há 21 anos eu fiz o meu primeiro desfile. Eu fui selecionado entre 10 estilistas europeus e americanos para fazer uma coleção inspirada no carro Focus, da Ford. Cada estilista tinha que fazer uma coleção com materiais como cintos de segurança, airbags, couro dos bancos e direção. Acabei ganhando o concurso e o carro. Essa coleção está exposta no museu da Ford em Michigan. Todos os meus trabalhos eram upcycling e eu não tinha noção disso. Nem o mundo tinha. Eu sou um dos primeiros estilistas aqui em NY a fazer isso. Então, as revistas do mundo inteiro fizeram material comigo. Upcycling é transformar o velho no novo, o resto é invenção”, completa.
O estilista parte do princípio do slow fashion, da criação pela arte, e de não se preocupar muito com o modo acelerado que a moda corre. “A rapidez é no pensamento, numa ideia. No “fazer”, estou desacelerando. Não sei sobre o futuro da moda. Faz um ano que diariamente quando acordamos, tá tudo diferente. Vamos continuar fazendo”, afirma.
Hoje em dia, Geová garimpa em brechós, compra peças vintages, recebe tecidos de amigos estilistas e cria a partir disso. As costumizações se fazem presentes em seu ateliê, que fica na 208 Avenue B, East Village, NY-NY. Pense em artigos Louis Vuitton, Hermès, Comme des Garços, Prada, Rick Owens e Vivienne Westwood, mas com o DNA inconfundível que só Geová Rodrigues tem.
E o futuro? “Espero que esteja como estou agora: vivo, alegre e feliz, com a mesma energia, amigos, família e criatividade. Eu quero ser igual ao Picasso, morrer trabalhando até onde o meu coração pulsar. E o resto, é resto”, finaliza o estilista.