KINGDOM OF DREAMS: A curva da moda entre a ascensão e o fracasso

Acorda. Liga o computador. Responde WhatsApp. Olha o e-mail. Pensa na pauta. Reuniões. Escreve. Eventos. Drinks. Escreve novamente. Cochila. Acorda. Vive? Em uma rotina de excessos ligamos o piloto automático que às vezes nem percebemos que o mundo não mudou tanto assim.

Vi a jornalista @izaricciardi publicando um trecho em seus stories de um vídeo do Alexander McQueen na euforia em seus desfiles vanguardistas que André Leon Talley e Anna Wintour ficaram de fora. Era um recorte do doc Kingdom of Dreams, na HBO Max. O deboche de Lee ao contar o fato foi corajoso. E essa coragem que vinha disfarçada de armadura foi o preço a ser pago por não aguentar todos os fatores que essa engrenagem de egos, organzas e paetês nos faz passar. A quantia? A vida.

Dividido em quatro episódios, a história pauta a ascensão dos grandes grupos de moda LVMH e o Kering sob a ótica construtiva e derrocada de Alexander McQueen, John Galliano, Marc Jacobs e Tom Ford. Era a efervescência criativa dos anos 90 onde o modelo de negócios que temos hoje estava se desenhando.

Nos jogos de poderes, as mentes mais criativas estavam no pódio. Dior, Givenchy, Louis Vuitton e Gucci renascem através dos olhares únicos de quatro homens que buscam a validação e legados. Embebedados pelo sonho e excessos de álcool e drogas no ofício de assinar para sobrenomes que não eram seus, no fim, acabaram muitos deles sem nem saber quem realmente são. Marc buscava a atenção que não tinha dentro do seu núcleo familiar e John se perdeu pelas próprias palavras. Bom, talvez o Tom tenha saído mais ileso.

E dia após dia a gente segue acreditando que essa indústria vai mudar, que vamos preencher mais espaços, criar novos futuros. Quanta bobagem! Seguimos vendo talentos fracassados, acordos duvidosos sendo feitos e vozes fascistas se reerguendo – em revistas, palestras pelo Brasil e nas mídias sociais.

Aos poucos, assim como no Reino dos Sonhos, a moda vai se tornando isso mesmo. O lugar imaginário onde os pensamentos se esvaziam como aqueles que se encheram da possibilidades de dominar o mundo, e acabaram se afogando. Porque no fim, quem passa o cartão, na moda e na vida, é quem comanda o tabuleiro.

Nós, peões.

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