McQueen disse que “a moda é uma forma de escapismo, e não de aprisionamento”. Mas, durante a Semana de Alta Costura em Paris, a frase do estilista pode ser posta em voga de acordo com os pontos de vista – ou momentos que todos nós e as marcas vivem.
Veja a “noiva” da Balenciaga, imagem viral de uma Joana D’arc moderna com seu vestido longo e plissado bem executado em uma construção metalizada. A rigidez foi além desse look: estava no acting das modelos, nas formas rígidas e estruturadas de vestidos, casacos e calças. No olhar melancólico de uma moda que pisa em ovos após polêmicas. E veja que não teve polêmica. Só roupas. Será que para Demna Gvasilia, diretor criativo da marca, isso é possível? Será que essa ideia de armadura não se trata de uma prisão interna, a casca de proteção criada para que os limites da mente não extrapole e seja posto em prova na linha tênue entre o que é possível e aceitável?
Na Chanel, em mais um ano, Virginie Viard nos apresenta uma coleção focada nos tradicionais códigos da marca, um apelo feminino e roupas para o público alvo, não para os olhos que procuram o fator “uau” de um storytelling bem contado. E sabe que acaba fazendo sentido? Uma casa de moda tão tradicional não vai abrir mão da clientela fiel que entende o sentido de continuidade, para a aceleração de uma geração que é pautada pelo descarte. Alta Costura é, acima de tudo, sobre roupas bem executadas por mãos talentosas. Não é só a pirotecnia. Tanto que as modelos interpretavam momentos do dia a dia.
E se o debate de que a moda é ou não é arte, Daniel Roseberry deixou para trás os animais realistas e nos convidou para um dos momentos mais penetrantes da Alta Costura: uma exposição para vestir, para emocionar e nos fazer acreditar que as roupas e a construção de imagem podem nos levar para lugares inimagináveis. O tradicional surrealismo criado por Elsa Schiaparelli esteve ali, mas em um lugar mais sutil sobre as formas do corpo, focando na roupa feita à mão elevada a potência máxima, nos mostrando os motivos por trás do luxo ser o luxo. Porque no fim não é sobre preço, é sobre execução.
Entre prisão, liberdade e otimismo, o zeitgeist está mais latente do que nunca.