Arte é arte. Não se explica, mas se questiona. Começou a Semana de Alta Costura em Paris e a #Schiaparelli abre o calendário com um desfile que deixou o gosto amargo e uma legião de fãs surpresos.
Fazendo referência a Divina Comédia e o Inferno de Dante, Daniel Roseberry trouxe o surrealismo para a fauna, fugindo um pouco dos corpos humanos e fazendo conexão com elementos que remetem a caça, desfilando cabeças de leão, leopardo e lobo na passarela, em uma ligação aos três animais que esperavam Dante na porta do inferno. Na primeira fila #KylieJenner surgiu com sua cabeça de leão no colo.
Mesmo sendo tudo de “mentirinha”, uma imagem de moda é responsável por comunicar muitas coisas. As redes sociais fervem com as referências ao colonialismo, aos prêmios de caça livre, a extinção de espécies puramente por prazer.
Sem um real ativismo e reflexão sobre o tema apresentado, as roupas ganham apenas espaço de cenografia, numa releitura ultrajante de Os Flintstones da nova era.
Nos últimos dias o Estadão publicou um vídeo onde mostra uma criação de raposas na Finlândia responsável por um milionário mercado de pele. É um absurdo imaginar que ainda existe vaidade e desejo no extermínio de uma espécie simplesmente para criar artigos de vestuários onde temos tecnologia o suficiente para replicar matérias sintéticos.
Daniel está errado? Não! Nós estamos errados em não amar as peças? Também não!
O que nem as marcas de moda nem nós consumidores podemos é naturalizar o absurdo e não usar nossos alcances para criarmos debates sobre esses temas que são atuais, e não fictícios, para que cada vez mais não confundam a criatividade com apologia.
Veja a última foto, uma bela referência ao pavão, mostrando sua beleza e opulência sem reforçar um estereótipo datado.
Schiaparelli, nós ainda te amamos, mas esse pivô não foi dos melhores. Que tal abrir espaço para eliminar de vez as peles e tortura na indústria fashion?
