Misci e o papel da moda como questionamento

Quando @aironmartin, diretor criativo da @misci__ , fala que usa a mesma seda da Hermès (exportada pelo Brasil), não é para falar sobre semelhanças, mas sim, para provar o seu valor, o valor latino no consumo e criatividade, abrindo espaço para provocações necessárias de uma indústria ainda rotulada por etiquetas.

Hoje a Misci apresentou na Pina Contemporânea, em São Paulo, a coleção Valor Latino, trazendo o diálogo justamente para essa valorização e prestação de contas com uma moda que durante muitos anos trabalhava em engrenagens de seus semelhantes, onde até pouco tempo, todas essas pautas sobre o fomento da criatividade nacional ficavam por ali, sem furar a bolha, sem gerar desejo num consumo de massa.

Foto/Reprodução
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Existe uma linha de pensamento muito bem executada no trabalho de Martin onde a contação de história que começou como fashion filme com a coleção Fuxico Lanches, passando pelo resgate das cores da bandeira nacional com a Mátria Brasil, até as possibilidades da Jerimum, tudo está ali conectado, não como partes separadas, mas de um todo.

A Misci não está preocupada em fazer tendências histéricas para consumidores frenéticos. O olhar para o público que entende é mais urgente. Vide a falta de grandes personalidades midiáticas que só geram atenção para o bel prazer, dando espaço para uma audiência que esperava consumir exatamente o que a Misci tem para oferecer: os códigos de um Brasil sem caricatura recheado de técnicas, tecnologias e histórias.

As raspadinhas da sorte, a pipoca de rua estampado na seda, a experimentação de um couro plissado, os chifres dos cornos traídos por amantes infiéis, a assimetria de uma sociedade desigual que tenta se encaixar e até mesmo as democráticas camisetas brancas, moldadas no corpo, que ganham status de luxo se aplicadas a etiqueta certa.

Olhar pelo retrovisor de uma marca de moda que segue levantando bandeiras de histórias mais reais do que imagens do Rio de Janeiro como unificação de um Brasil internacional, é essencial.

Porque no fim, mesmo os mais abastados, somos todos latino-americanos, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindos do interior.

Valor latino não é sobre preço, é sobre valorização.

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