Misci e a força das mães solos no Brasil

Os meus pais se separaram há pouco mais de 10 anos. Eu não entendia bem aquele cenário de desabamento familiar e passei uns bons anos da minha vida vendo a minha mãe sofrer o luto pelo marido vivo. E foi assim que eu e meus irmãos entramos nas estatísticas de famílias com mães solo. Naquele momento eu ensaiava o meu entendimento de como o patriarcado é cruel e multidisciplinar. Os homens cis tem a capacidade natural de se juntarem em bando e darem as mãos para os seus semelhantes em uma forma de asseguramento que, se eles estiverem juntos, calarão muitas vozes e assim, invalidam as situações de abandono ou descaso.

Mesmo passando por todo um drama que não conseguiria escrever tudo por aqui – pelo menos o que eu sei – a minha mãe sempre usou a moda como escudo social. Jamais descia do salto ou saia de casa com roupas duvidosas perante os olhos julgadores de uma cidade no interior. Ela se fortalecia nas roupas. E é assim até hoje.

MISCI Foto: Zé Takahashi

Muitos viram ex-BBB, super modelos e cantoras de sucesso. Mas a história da Misci não era sobre os amigos da marca. Era sobre as mulheres. Era sobre a minha mãe e muitas outras.

Eva-Mátria é uma ode as potências femininas e serve como desconstrução de poder em torno do masculino. Erramos ao silenciar as mulheres como protagonistas sociais desde a ficção até a vida real. Essa mudança tem urgência e pressa.

Airon Martin é um apoiador do que é nosso. Outro dia ele me disse: “as pessoas se identificam porque fazemos de verdade”. E é com essa verdade e a força das mães e mulheres solo do Brasil, que a Misci conta a sua história, pela quarta vez no SPFW.

Eu peco ao olhar a moda além das roupas, quase deixando de falar sobre as construções de alfaiataria impecáveis que fogem do óbvio; as chupetas que por muitas vezes são acalento, foram criativamente inseridas na passarela; a estampa que traz o pau-brasil e o vermelho sangue como a forma que o Brasil foi forjado, e as planícies que servem de fonte de renda para tantas famílias. Sem falar que tudo foi feito com responsabilidade social, abraçando as causas da Mãe Terra, a nossa casa que por muito tempo vem sendo tão maltratada, assim como as mães que são esquecidas socialmente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados

Comece a digitar sua pesquisa acima e pressione Enter para pesquisar. Pressione ESC para cancelar.

De volta ao topo