Entrevista: Priscila Jin fala sobre moda, consumo e mitos sobre o oriente

Pri, conta pra gente um pouco da sua relação com a China? Qual sua história e conexão?

A minha história com a China começou desde que eu nasci. Meus pais são chineses, nascidos e criados na China. Em casa, a cultura chinesa sempre esteve muito presente. Meus pais sempre gostaram muito de me ensinar, até por isso sei falar mandarim, antes mesmo da China virar “moda” e uma potência mundial.

Fora de casa tinha a educação brasileira, mas dentro, era 100% chinesa.

1- Qual a atual relação da China com a COVID-19? Ainda existe muito preconceito por parte do resto do mundo?

A China até então é considerada como o epicentro da pandemia. Porém, existem diversos estudos dizendo que não, então precisaremos de mais pesquisa para confirmar. Por mais que tenha começado aqui, acho que não é motivo de preconceito. Infelizmente o mundo não vê dessa forma. É tudo muito polarizado. Mesmo com tanto acesso à informação, as pessoas só buscam e querem ouvir e ler, apenas aquilo que elas acreditam.

As pessoas vivem em uma bolha. Para a visão ocidental, tudo na China é péssimo. Acredito que seja uma falta de querer entender, de curiosidade e de vontade. Não posso falar hoje, em pleno 2021, que seja falta de informação. O que não falta são informações. Por exemplo, em meu Instagram @PriscilaJinn, você consegue olhar a China de uma maneira bem superficial. Não existem só informações jornalísticas, existem várias plataformas que fazem você se aproximar mais.

Por muitos anos, a China esteve mais distante do ocidente, mas hoje em dia não é mais um motivo da falta de conhecimento. Isso parte devido a falta de vontade de conhecer. Então realmente existe muito preconceito, não dá pra defender.

2- Como você enxerga o consumo dos chineses em relação aos brasileiros?

O consumo dos chineses em comparação aos brasileiros é muito maior. A China tem uma população várias vezes maior que o Brasil, questões econômicas e sociais bem distintas. Não dá pra comparar, são realidades diferentes.

O que eu vejo de diferente nos chineses é que eles tem a questão do sonho de consumo de uma maneira mais capacitada de conquistar aquilo. No Brasil, uma pessoa de classe média nem sempre consegue alcançar aquele sonho. Os chineses, conseguem. Eles culturalmente guardam dinheiro. Só gastam aquilo que tem. Se eles querem uma bolsa eles podem passar anos guardando só para comprar aquela bolsa. O brasileiro não consegue, ele está sempre endividado.

A relação de rico brasileiro x ricos chineses, é que o chinês realmente gasta muito, mas é um consumo mais por status. Claro que tem uma parte da população que conhece a moda, mas tem outra parte que gasta por status. Virou uma questão social.

3- Muitas marcas gigantes na moda estão de olho no oriente. Na sua opinião, como e quando esse interesse surgiu? Por quê?

Muitas marcas realmente estão de olho no oriente. Além de estarem de olho, já estão aqui com uma comunicação única para os chineses. Focando na China, esse interesse surgiu porque os novos ricos estão aqui.

As pessoas ricas têm esse interesse de consumir por status e as grandes marcas veem uma oportunidade nisso. É uma população que cada vez está mais ligada em criar moda e ditar tendências.

4- É notável que na China as pessoas são mais fashionistas em sua essência. Existe uma liberdade de expressão maior nas roupas em relação ao Brasil?

A China tem muita gente. Então os chineses acabam se acostumando com a diversidade. Eles não têm a necessidade de todo mundo se vestir igual, e também não julgam o que os outros estão usando.

Os chineses se vestem como se sentem bem, o que eles querem. Aqui surgem tendências, modinhas, mas cada grupo pega sua tendência favorita. No Brasil, não. Surgem, por exemplo, três tendências, e as pessoas focam nisso. Na China são bem mais difundidas e as pessoas têm várias maneiras de se expressar.

5- Dicas de turismo? Quais pontos a gente não pode deixar de conhecer?

Se você vem pela primeira vez à China, é interessante buscar os pontos turísticos. Indico conhecer Shangai e Pequim. Shanghai por ser o centro de inovação e tecnologia. É tudo muito grandioso. E Pequim por ser a capital da China. Então você consegue conferir a história, curiosidade e a Muralha da China.

6- Muito se fala sobre as lojas on-line e suas produções em massa. Como vocês enxergam esses processos? Existem questionamentos sobre as formas que essas peças são produzidas?

Os chineses já estão bem mais acostumados. Como eles já conhecem as questões das fábricas, dos avanços, eles não questionam. É realmente uma ideia ocidental que na China é tudo mal feito ou tem trabalho escravo. As pessoas precisam entender com o olhar Chinês.

Os jovens que já foram pra fora e que entendem as questões sociais, questionam sobre a fast-fashion, essa moda que é muito rápida, que usa e joga fora.

7- Qual a relação dos chineses com a nova contratação da Jin Xing na Dior?

Aqui na China é bem diferente. Como o Brasil é um país muito homofóbico, é uma conquista. Uma parte dos chineses não falam muito sobre isso, porém, por outro lado, outra parte não se incomoda com as orientações sexuais das pessoas.

A Jin Xing tem uma história linda e muito bem aceita. É uma artista com uma opinião muito forte e respeitada. Ela tinha um programa de televisão só dela.

Na China, eu nunca vi ninguém ser atacado por ser gay. Claro que existem os tabus, mas pela Dior ser uma grande marca global, pode está de olho em uma estratégia de branding.

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