A moda e a apreciação ao tempo

Antes de Nós. No tempo em que vivemos é mesmo de se refletir sobre o passado, quem veio antes e entender para onde vamos. Na efemeridade da moda, por exemplo, é como se tudo já nascesse pronto e aqueles que pavimentaram nossos caminhos, se esvaziam no tempo assim como descartamos tudo que já é considerado datado. Mas Paula Raia pensa na linha do tempo e costura sua história com imersões que emocionam o olhar. Exemplo disso vimos ontem na experiência sensorial em uma casa abandonada em São Paulo para lançar sua coleção/exposição Antes de Nós, trazendo a poesia da moda no meio do caos – na medida do que vivemos hoje.

É tudo muito rápido, supérfluo, imagético e esquecível. A moda vem passando por momentos de descobertas e entendimentos do que vale ou não ser apreciado. Paramos em um ponto onde tudo é para agora, na velocidade da luz e em reproduções que nos colocam à prova da nossa própria capacidade de resiliência, como se, a todo tempo, estivéssemos com desejo latentes de ser algo, de pular as etapas de descobertas. Quando foi que passamos a querer crescer sem entender as necessidades dos nossos processos de desenvolvimento?

@paula_raia fugiu do tradicional modelo de desfiles e nos faz pensar como estratégias que conversam diretamente com o DNA da marca são mais potentes muitas vezes do que criar um espetáculo para impressionar mãos frenéticas por vídeos e fotos temporárias. A moda de Paula é para quem gosta de sonhar, não há espaço para céticos e previsões de tendências banais.

Foto: Guilherme Nabhan/Reprodução

Essa relação com a natureza traduz muito o que Paula Raia pessoa física vive: no seu tempo, respeitando o próprio compasso e acreditando que uma flor só é bela porque precisa dos segundos certos para chegar na magnitude da criação, e resiliente o suficiente para permanecer em contemplação também no período necessário, nos segundos que fazem sentido. A moda pede esse apreço pelo belo.

Foto: Guilherme Nabhan/Reprodução

Em meio a tantos replicadores, modinhas e charlatões na indústria da moda, é bom poder respirar uma coleção bem executada que não precisa provar nada, a autossuficiência da criatividade sem limites basta. É o sentimento na personificação dos tecidos. É um além do que se vê.

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