Lembro que em coleções passadas a @misci__ trouxe a frase “Existo porque insisto”. E nada define mais a vivência das pessoas fora dos grandes centros, do que a persistência em se sentir parte das áreas de protagonismo em um país tão desigual.
Em hipótese alguma estaremos preparados para lidar com engrenagens como o racismo, a xenofobia e a falta de entendimento de recortes culturais dentro do Brasil.
Quando estive na SP-Arte, evento no centro das discussões por sua democratização de público nos últimos anos, uma clássica mulher paulista sentou ao meu lado durante o almoço e me perguntou de onde eu era. Falei do Rio Grande do Norte.
“Quanto tempo leva do RN até Miami?”
Estranhei. Na hora não me bateu forte, mas depois fui convidado a refletir sobre como precisamos estar nesses lugares com um repertório atualizado social e culturalmente para rompermos essas estruturas coloniais.
E é assim, sutilmente e sem intenção, que as situações se desenrolam e entendemos que o Brasil ainda não conhece o Brasil. Porque dentro desse recorte que respirava arte, mesmo trazendo narrativas que abraçam uma maior parte racial em suas obras, os consumidores ainda são majoritariamente brancos e elitistas.
É como operar dentro da moda. Players, estilistas, gerentes de grandes projetos e personalidades que estão na primeira linha de atuação, também são segmentados. Lutamos diariamente para que esses locais sejam preenchidos por nomes que entendam que o nosso país não está apenas do Rio de Janeiro para baixo.
Quando falamos em furar a bolha é exatamente isso: fazer com que a sua presença seja meio de transformação além das fronteiras do conforto. Porque no fim, se formos apenas um meio ilustrativo nesse jogo da comunicação, nosso papel será obsoleto, sem expressão e sentido. Seremos mais um.
Sempre recebo mensagens falando o quanto sou corajoso por levantar pautas que fazem a indústria pensar e repensar. Mas precisamos ter muito mais coragem para enfrentar a realidade que é bem mais escorregadia e cruel.
Então quando você enxergar alguém questionando o sistema, não tente invalidar. Busque entender como essa pessoa pode ter as mesmas oportunidades que você.