Por Alice Andrade
Historicamente, escritoras e escritores negros são invisibilizados no que diz respeito à divulgação de conhecimento. Quando se questiona sobre pensamento social brasileiro, geralmente autores brancos vêm à tona, como Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. E onde estão os autores(as) negros? O racismo também é uma prática epistêmica. Ou seja, a opressão sobre negros(as) acontece também no campo do saber. Pessoas negras produzem, sim, conhecimento, mas ao longo do tempo, devido a uma lógica eurocêntrico-ocidental e colonialista, essas produções foram invisibilizadas em detrimento de cânones brancos.
Nas últimas semanas, a questão racial tem sido constantemente posta em pauta no mundo. O genocídio dos negros no Brasil e o assassinato do americano George Floyd são alguns dos pontos discutidos pelo povo nas redes e nas ruas. São milhares de pessoas que ecoam em uníssono um grito por uma sociedade mais justa e menos racista.
Nesse contexto, preparamos uma lista com 5 livros para conhecer mais sobre a questão racial, cultura negra e combate ao racismo. Assumir-se parte da cultura antirracista é um compromisso que vem da prática, e a leitura é o primeiro passo para a inserção nesse pluriverso. Busquemos ler escritoras e escritores negros. Nós não podemos ser restringidos ao lugar de “objeto de estudo”, pois também somos protagonistas na construção do conhecimento.
1 – Pequeno manual Antirracista (Djamila Ribeiro)
Em seu “Pequeno manual antirracista”, a filósofa Djamila Ribeiro apresenta dez lições para compreender o racismo, reconhecê-lo, se autorreconhecer nesse procedimento opressivo e combatê-lo. Com poucas páginas, mas um conteúdo profundo e imenso, este livro nos auxilia na desconstrução de uma mentalidade escravista e colonial que oprime, reduz e invisibiliza vidas negras.
2 – O genocídio do negro brasileiro (Abdias Nascimento)
Segundo o Atlas da Violência de 2019, 75,5% das vítimas de homicídio no Brasil são negras. O genocídio (morte em massa) é uma triste realidade que assola o povo negro desde que chegou ao Brasil. Neste livro, Abdias Nascimento desenvolve uma análise crítica a respeito do mito da “democracia racial”, desconstruindo-o e levantando elementos históricos da desigualdade social vivida por pessoas negras ao longo do tempo – que levam à nossa morte ainda na atualidade.
3 – Interseccionalidade (Carla Akotirene)
Escrito pela assistente social e pesquisadora Carla Akotirene, a obra faz parte da coleção Feminismos Plurais e aprofunda, de maneira didática, poética e metafórica, o conceito teórico-metodológico-interpretativo da interseccionalidade. Trata-se de uma sensibilidade analítica que direciona o olhar sobre múltiplos sistemas de opressão que se entrecruzam, como raça, classe e gênero. A partir da interseccionalidade é possível compreender as desigualdades raciais que permeiam a sociedade.
4 – Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil (Sueli Carneiro)
Em um compilado de artigos produzidos entre 2001 e 2010, Sueli Carneiro reflete sobre a sociedade brasileira, abordando o racismo, aliado ao gênero, como elemento cotidiano que é estrutural e estruturante. A autora levanta questões da população negra em diversas áreas, como mercado de trabalho, saúde, educação, direitos humanos, miscigenação e moradia.
5 – Racismo estrutural (Sílvio Almeida)
Este livro, também integrante da coleção Feminismos Plurais, defende a tese da ocorrência do racismo como uma questão estrutural. Inicialmente, traz os conceitos de raça, preconceito, discriminação e racismo, sendo este uma forma discriminatória que tem a raça como elemento fundamental. O autor também analisa as dimensões individualista, institucional e estrutural do racismo, conectando essas ideias com a ideologia social, a política e o Direito.
Sobre Alice Andrade
Jornalista, mestra e doutoranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). Membro do grupo de estudos Epistemologias Subalternas e Comunicação (desCom – @descomufrn). Pesquisadora de mídia e relações étnico-raciais.