Qualquer bom árbitro da moda masculina há de concordar que poucos itens tem um caráter tão sutil, controverso e político quanto o cropped. Não é de hoje que a peça sofre uma certa discriminação do “público tóxico masculino”. Vítima da vez, o ator @joaoguilherme se tornou alvo de insultos virtuais após postar uma foto usando o item durante em Paris.
![](https://reneroliveira.com/wp-content/uploads/2023/08/IMG_1827.jpeg)
A percepção de que um homem usando um cropped deve ser gay e, no mínimo, feminino, é quase irônica, já que a ascensão do cropped é rastreada a partir de uma das atividades mais hipermasculinas de todos os tempos: o futebol americano. As camisas de futebol estavam constantemente sendo rasgadas durante os jogos, expondo os torsos e abdominais dos jogadores. Essa “exposição acidental” originou uma tendência no início dos anos 80 de jogadores deliberadamente cortando suas camisas para mostrar seus corpos esculpidos.
![](https://reneroliveira.com/wp-content/uploads/2023/08/IMG_1836.jpeg)
Para quem cresceu entre os anos 80 e 90, a referência pode se tornar um pouco mais nítida: você irá lembrar do filme “Rocky III” de 1982, em uma cena em que Carl Weathers ostenta a camisa cropped;
![](https://reneroliveira.com/wp-content/uploads/2023/08/IMG_1838.jpeg)
ou até mesmo do clássico de terror “A Hora do Pesadelo”, com a estreia de Johnny Depp, em 1984.
![](https://reneroliveira.com/wp-content/uploads/2023/08/IMG_1837.jpeg)
Déjà vu total para quem assistiu quando Will Smith, apareceu em “Um Maluco no Pedaço”, em 1990, com uma camisa cropped.
![](https://reneroliveira.com/wp-content/uploads/2023/08/IMG_1839.jpeg)
Mas, no final dos anos 80, a imagem do cropped começa a mudar. Se antes a camiseta recortada reforçava um padrão de masculinidade, marcada pelo culto ao corpo, esporte e atletismo, nesse novo caminho ela ganha outro significado, é a partir da figura do cantor Prince, em Wembley, em 1986, que o cropped passa por um rebrand.
![](https://reneroliveira.com/wp-content/uploads/2023/08/IMG_1841.jpeg)
A medida que o cropped ganhava uma nova identidade nos anos 90, o público hetero-masculino se distanciava ainda mais do item. A represália que envolvia as questões de gênero também partia de um contexto muito mais amplo: a crise da HIV/AIDS; o advento de políticas como Don’t Ask Don’t Tell, e o brutal assassinato do jovem gay Matthew Shepard, nos EUA.
Embora todo o ideal de virilidade imposto pela masculinidade frágil, o cropped também acrescenta um leve ato sutil de emancipação – uma avaliação de como as roupas ficam emaranhadas na expectativa social.
collab: @matheushab