Nos últimos dias os noticiários não são dos melhores. Revoltas no mundo inteiro causadas por anos de opressão, preconceito e supremacia. Quando a gente fala em protestos, vem logo a tona a imagem de quebradeiras e baderna. Muitos não conseguem entender o lado político disso. Claro, seria mais fácil se os governantes e autoridades escutassem e debatessem de uma forma pacífica, temas relevantes para a sociedade, além de colocar em voga as causas das minorias que são marginalizadas há tanto tempo.
O mês de junho começou de uma forma bastante turbulenta devido ao assassinato de George Floyd- homem negro torturado e morto por um policial branco nos Estados Unidos.
Mas, o mês 6 no calendário também é lembrado por outra luta: a comunidade LGBTQIA+ se libertou, brigando com a polícia na revolta do bar Stonelwall Inn.
O ano era 1969 e o bairro era o Greewich Village, em Nova York. O Stonewall Inn era além de um bar para os gays, lésbicas e drag queens daquela época, era um refúgio de liberdade. Claro, há 50 anos ser gay era crime e demonstrações de afeto pelo mesmo sexo, violação máxima.
A polícia sempre chegava hostilizando e abusando do poder (coincidência, não?). Mas na noite de 28/06/1969, os frequentadores que ali estavam resolveram não mais se esconder. Carros queimados, copos jogados e os gritos pelo orgulho gay tomaram de conta do bairro. A euforia foi tanta, que os próprios policiais tiveram que se esconder dentro do bar para pedir reforços.
Diz que aí foi o pontapé inicial para os movimentos de igualdade. Figura importantíssima dessa luta, foi Marsha P. Johnson. Mulher trans e drag queen, Marsha era conhecida e querida na cena noturna do Village. Lutou pelos direitos de ir e vir, foi modelo de Andy Warhol e salvou vários jovens das ruas. Tempos depois, em 1992, Marsha foi encontrada morta nas margens do rio Hudson, com um buraco na cabeça. As investigações da época apontaram suicídio, sendo que até hoje não temos as conclusões exatas do que aconteceu.
A drag deixou um legado, mas não andava só. Militava ao lado de Sylvia Rivera, melhor amiga e também ativa na luta por direitos gays e trans. Sylvia lutou até sua morte em fevereiro de 2002, decorrente a um câncer no fígado. Atualmente, as duas são lembradas como simbolo de luta e garra.
Nos últimos dias conheci melhor essa história através do documentário da Netflix “A Vida e a Morte de Marsha P. Johsson“, lançado em 2017. Fica nítido que não existe luta sem glória. Para a liberdade, tivemos vanguardistas que lutaram e muitas vezes pagaram com suas vidas para que possamos ter hoje, uma drag queen sendo mainstream e tendo lugar de voz.
A representatividade é necessária e lutar contra a homofobia é um direito de todos. Fazemos isso diariamente por tantas Marshas e Sylvias que estão por aí nas ruas.
Com isso, percebemos que o Orgulho Gay, apesar de muitas cores, tem muitas manchas de sangue na bandeira. Se os copos não tivessem sido jogados, se as viaturas não tivessem sido queimadas, se os gays e lésbicas não tivessem a coragem de barrar o sistema, o mundo em que vivemos, mesmo com tantas dificuldades, seria muito diferente.
#Pride