Em mundos difíceis, o que nos resta é sonhar

“O que faz da vida humana preciosa e significativa é a sua brevidade”. Essa foi a fala da Esfinge para explicar ao Pinóquio sobre o sentido da vida, o porquê de sermos passageiros e finitos. Mas não estou aqui para falar sobre o longa de Guillermo del Toro, apesar de ter traduzido o desfile da @Paula_Raia, que aconteceu ontem na Galeria Jaqueline Martins, em São Paulo, com muitos questionamentos sobre essa linha tênue entre o místico e o real, como o filme me retratou.

Não sei se foi pelo bloco de roxo, lilás e azul que Paula cruzou a passarela e me levou para esse lado mais cósmico da nossa existência, como o purgatório que o Pinóquio passou diversas vezes até entender a humanidade, mas estamos questionando o nosso papel entre o real e o imaginário, o palpável e o intangível, a função e o propósito. Na verdade, na moda sempre queremos ser alguma coisa, mas no fim, a coleção Simultaneidades falava sobre isso, o lugar híbrido que estamos, as possibilidades na multiplicidade das coisas. No paradoxal.

Foto: @agfotosite/Reprodução
Foto: @agfotosite/Reprodução

Um Jardim do Éden com a aura etérea entre o concreto da cidade de São Paulo, a construção do lúdico sem ser fantasioso, a estruturação de roupas que vão além do tempo para uma moda poética e que pede licença para narrar histórias depois das estações. Tudo na moda nacional que Paula Raia constrói faz sentido.

O encapsulamento na modelagem nos levam novamente para esse lugar de conforto, de amadurecimento e entendimento sobre si mesmo. Se durante a pandemia vislumbramos uma moda que pautava a casa como nossa extensão e estávamos na busca de uma conscientização sobre o mundo, hoje vimos que essas mudanças precisam acontecer internamente primeiro, é um convite para a redescoberta em meio a tanta banalidade e hostilidade nessa indústria do consumo.

As lesmas que rastejam no seu próprio tempo, os insetos que ganham status de acessórios, viver e enxergar esse mundo lúdico de Paula Raia é entender que a moda nacional segue em seu próprio compasso, morrendo e vivendo várias vezes, como Pinóquio e seu coração de gafanhoto, sabendo que a realidade é difícil e que em certos momentos, o que nos resta é sonhar.

E eu sonho diariamente com essa moda.

📸: @agfotosite

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