Passei a entender que roupa não tinha gênero, não por estudos ou por ser disruptivo, mas inconscientemente, talvez por necessidade. Vindo de uma família com mais dois irmãos e seguindo a cartilha do consumo “só compra algo quando rasga ou não dá mais para usar”, o papel da roupa ia além do estilo, mas de ter, o mínimo, para se usar de mil formas.
Foi assim que minha mãe começou a me passar algumas calças dela. Lembro que ela dizia, em uma ação não de me atentar ao gênero, esses diálogos não existiam, mas de uma maneira de me tranquilizar e me mostrar que o jeans era jeans. É neutro. E já que não poderia comprar um novo, usava de bom grado.
Me desprendi de alguns rótulos ou estímulos, o que me fez abrir a mente para um novo entendimento do mundo e chegar até aqui.
Escrevo isso porque vendo o perfil da influenciadora @geochaves me deparei com um comentário, vindo de outra mulher, com estereótipos do machismo, falando que Geo estava “muito masculina, perdendo a feminilidade”. Podemos chegar à conclusão que era pela gravata? Pela roupa no estilo paletó? Pelas calças? Pela atitude?
Engraçado que muitas dessas pessoas que rotulam, ostentam bolsas Chanel, mostrando como a moda também nos leva a lugares vazios apenas pelo logo, sem entendimento da história da marca.
Há muito tempo as roupas passaram a segmentar por “masculino” e “feminino” não por ergonomia, mas por distinção. Uma maneira de separar e encaixar cada gênero no seu lugar de pertencimento, de diferenciação social.
Numa geração tão evoluída as pessoas perderam o filtro. Vivemos na era do tudo pode. Mas parece que o que não pode, é você ser livre para usar a moda da maneira que quiser, de trazer para o mundo sua expressão longe de amarras.
O que pode é continuar colocando as pessoas em caixas, limitando-as a seguirem a mesma cartilha que você por imposição pessoal ou falta de repertório.
A criatividade vem de lugares onde a escassez faz morada. O que nós somos vai muito além de qualquer definição de gênero, modelagem ou tecidos. Moda é liberdade, é uma extensão de quem somos e nada qualifica isso.
Ah, e se roupa definisse caráter? Não teria tanta gente grifada sem valer nada.