Enquanto o MET Gala não acontecia e fazia sua homenagem ao Karl Lagerfeld, muitos sinalizaram suas falas preconceituosas, misóginas e godorfóbicas. Mas, a moda provou mais uma vez que nada sobre ela gira em torno de um determinado sujeito, e sim de uma forma coletiva, de como a sociedade se move perante as estruturas que é inserida.
E uma dessas, ele falou que “ninguém quer ver modelos gordas. As mães gordas com seus sacos de batatas fritas ficam em frente à TV dizendo que as modelos são feias”. Mesmo a cantora Lizzo não falando por A+B como alguns preferem interpretações ao pé da letra, podemos definir claramente um protesto quando ela surge com um look Chanel clássico com pérolas e comendo batata frita. Se isso não for uma carta com destinatário, seria uma grande coincidência do destino. Mas é melhor preferir e acreditar que a moda constrói seu papel político sem precisar de muitos alardes.
Dos looks à decoração, podemos vislumbrar alguns feitos do evento: as flores foram trocadas por garrafas PET, o que pontua positivamente quando falamos em sustentabilidade na moda, já que a indústria segue como uma das mais poluentes do mundo. Outro pet, desta vez de carne e pelos, a Choupette, herdeira felina de Lagerfeld, antes havia sido confirmada no evento, mas o bom senso reinou. Por outro lado, a gata recebeu homenagem de Jared Leto, Lil Nas X e Doja Cat, que trouxeram o ar camp em meio a produções sem carisma.
A moda também é sobre autoreferência: sem muitos esforços, Gisele Bündchen nos representou bem ao vestir um Chanel de 2007 usado para um editorial da Harper ‘s Bazaar Korea e fotografado pelo próprio Karl. Um dos pontos altos da noite, Donatella Versace mergulhou no próprio histórico para fundir magistralmente os símbolos da casa italiana com o DNA da francesa Chanel, construído para Anne Hathaway um vestido todo em tweed, mas trazendo o lado sexy com recortes e aplicações de alfinete a lá Elizabeth Hurley em 1994.
Moda é história, reparação e inspiração. Talvez estejamos tão acostumados com o fato literal das coisas, que deixamos de lado as possibilidades de preencher espaços e criar novos mundos e possibilidades corrigindo os equívocos do passado.