Hoje o Nordeste corresponde pouco mais de 27% de marcas que compõem o line-up do #SPFW. Um avanço em relação às últimas décadas onde a relevância criativa estava centralizada em marcas do sul e sudeste. Nesta edição, que por sinal trouxe uma diversidade mais ampla em corpos e cores, ainda falta olhar de uma maneira mais significativa para a moda ancestral que vem do Norte. Ainda bem que tivemos Maurício Duarte para nos relembrar que o Brasil originário vive, pensa, consome e se atualiza assim como o resto do território nacional.
O jovem estilista começou com um fashion film no ano passado, apresentado no Komplexo Tempo e, agora, usou a passarela como emancipação para um novo passo na moda, tendo sua coleção Tramas desfilada no Senac Faustolo, um dos pontos ocupados pelo @SPFW na edição n55, onde o foco era centralizar as manualidades em cestarias feitas em fibras de arumã e tucum por 16 comunidades indígenas.
Em tempos onde estamos discutindo o Projeto de Lei 490/2007, ou o PL do Marco Temporal sobre as demarcações de terras indígenas, entendemos que temos um longo caminho para preservar e resguardar os povos originários em todas as suas esferas. É uma questão de reparação histórica. E na moda não seria diferente.
Trazer novos nomes para um line-up tem seu peso. Uns já mais estruturados, outros tendo que passar noites costurando os looks que serão desfilados. Para Maurício, é preciso uma atenção maior nessa valorização e proteção da cultura ancestral.
“Como se fala de Origem se não abraça a única marca originária? Falta incentivo de órgãos públicos que entendam a relevância da moda como instrumento de valorização e criação de oportunidades, assim como as iniciativas privadas. Eu não escolhi sair de Manaus e se estou aqui, é para abrir caminhos para que outras pessoas não precisem deixar suas raízes como eu. O meu trabalho só aconteceu porque acreditei nele”, diz o estilista.
Nessa movimentação de estruturas é preciso usar todas as plataformas para fomentar de uma maneira eficiente a equidade sobre as manifestações culturais para que a gente não caia no lugar finito das aberturas de mercado, onde no fim, as bandeiras são lastreadas da boca pra fora.