Reinaldo Lourenço voltou. Não que ele tenha ido, mas trazendo o debate para a mídia e como as engrenagens de holofotes funcionam, o estilista que está prestes a completar 40 anos de moda regou flores para colher em uma noite onde a execução de uma boa roupa se tornou protagonista em meio a uma plateia que ansiava por um recomeço. Por uma roupa onde a execução é palavra de ordem em um luxo que foge de frivolidades trazendo o impecável dentro do ponto de vista técnico.
Após um hiato entre seus últimos desfiles em um período de turbulência onde a moda sentiu a necessidade de mudar completamente sua estrutura sob a ótica social, racial e moral, Reinaldo precisou olhar para um novo mundo e entender que as costuras de uma casa de moda não são apenas para o consumidor final, mas que faça sentido para quem consome também como inspiração.
O clima era intimista: os passos curtos e lentos das modelos passeando pelo salão da FAAP foram divididos em quatro mini salas redondas, onde era quase possível sentir as texturas e observar os acabamentos de tão perto que estava.
A sobriedade se fez presente desde os looks mais estruturados até a fluidez dos crepes de seda com bordados e rebordados de plumas e penas sintéticas. Mesmo que cores como o pink Valentino e um amarelo cintilantes surgissem em alguns momentos buscando um público mais geracional, os tons de preto e dourado fazem contraponto com a alma madura da marca, para o seu público.
Reinaldo disse que o sentido da vida é simplesmente viver os próprios sonhos. Nessa que vamos sonhando com as mudanças na moda e na criação de lugares de oportunidades e democráticos. Talvez a hora seja agora de tirar esses sonhos do lugar fantasioso. As pétalas estão aí, mas como vamos a partir de agora regar esse jardim é o que fará a diferença.
Porque mesmo que exista todos os elementos de uma moda importante e necessária para a indústria, é uma pena que esse segmento de luxo ainda tenha uma dificuldade de incorporar no dia a dia práticas e sintonias das necessidades e dos desejos contemporâneos.
Curioso pelo que está por vir. Não deixa de ser instigador saber que alguém permanece relevante em uma indústria tão passageira.