Desde que o fenômeno da internet começou a ganhar espaço e as pessoas passaram a ter suas vidas registradas diariamente em feeds calculados e stories frenéticos, a mídia tradicional perdeu o espaço para pensamentos menos embasados, com achismos e, na moda, a crítica virou uma ferramenta de represália, e não de construção de pensamento ou reflexo do cotidiano. Ficou obsoleta e frágil na visão do capitalismo.
Vanessa Friedman fez um tweet em fevereiro durante o desfile da Gucci pós-Alessandro Michele, criticando um lugar de privilégio dos influenciadores. A arena estava formada: de um lado a editora de moda e crítica do The New York Times e do outros as personas digitais.
Viramos frágeis. Fomos condicionados a termos o lugar de fala dentro do conforto do nosso lar. Buscamos ferramentas que nos escondem do cotidiano, de entrar em lugares que não são nossos e questionar in loco, indo além de caracteres ou imagens que, em segundos, são esquecidas.
Nos acostumamos com um arsenal de pessoas dentro do padrão ocupando lugares, tiramos a possibilidade de pertencer e não ser apenas uma figura ilustrada, vestida e sorridente nas primeiras filas dos desfiles e eventos.
Selecionamos nossas lutas. Escolhemos a dedo quais capas de revista julgar. Moldamos a nossa personalidade em torno da nossa bolha e questionamos se a moda é o nosso lugar.
Qual o seu perfume? Dolce & Gabbana ou o Chanel nº 5? Você está no seleto squad da Boss? Foi ao Lollapalooza com marcas e ativações que corroboram com trabalhos análogos a escravidão? E dentro do Brasil, está fazendo campanha de calçados para conglomerado de cópias? Bom, todos nós estamos em posições passivas de marcas controversas e que estão propícias às críticas, que todos sabem, mas preferem não saber para que no fim do mês a agência não te corte.
É mais fácil estar no conforto de ser audiência do que ter o protagonismo. Por isso a crítica de moda nacional declinou. Não por querer, mas por não fazer mais sentido no país do oba oba.
Dizem que a moda tem memória curta, eu diria que para muitos, tem falta de repertório. Se pautarem tudo, poucos seriam os sóbrios e os que estariam em coerência com o certo e errado na linha tênue.