“Tem todo o tempo Ítaca na mente. Estás predestinado a ali chegar. Mas não apresses a viagem nunca”. Assim como escrito pelo poeta grego Konstantinos Kaváfis sobre o retorno de Ulisses para a ilha de Ítaca após a batalha de Tróia, vivemos nessa eterna jornada pela redescoberta, vez ou outra com angústias sobre o caminho, mas tendo a certeza que não iremos nos decepcionar com a chegada se soubermos aproveitar os processos.
E essa sede pelo imediato é vista na moda em um momento onde literalmente paramos no tempo, olhamos para os lados, e vemos que todos os caminhos parecem o mesmo. Mas para a @neriage_, não. A marca apresentou ontem na Pinacoteca de São Paulo a sua coleção Cartas para Ítaca, trazendo o poema amado por @rafaellacaniello, estilista, além de sua inspiração nas obras do artista cearense Leonilson que, através da sua visão, criou um acervo de artes autobiográfica que documentava em formatos de carta.
Como se superar? Como fazer sentido existir? Como buscar a subjetividade através das roupas? Não é de hoje que Rafaella passeia pelo seu próprio íntimo em viagens que mostram esses incômodos mas de uma maneira sutil beirando à poesia.
Em Cartas para Ítaca, a Neriage rema rumo ao amadurecimento e liberdade. Amadurecimento por saber que o que é bom tende a ficar melhor com o tempo – vide o exímio trabalho com plissados característico da marca que surgem em maneiras menos rígidas para um clima tropical. E a liberdade por saber que podemos ousar e fugir do que esperamos: o trabalho em parceria com a Levi ‘s nos mostra isso, a rebeldia jovem também pode e deve fazer parte do guarda-roupa de uma mulher clássica, por que não?
Se o apreço na jornada está nos detalhes, o @projetoakra com seus chapéus e bolsas de palha bem executados fizeram toda a diferença no show.
Essa é a primeira vez que a família de Leonilson autoriza que o seu trabalho seja ponto de partida na moda. Dizem à boca miúda que um outro estilista fez uma coleção não-autorizada e foi notificado. Para uns pode até parecer demais, mas para outros, isso só mostra que no mundo capitalista, nem tudo é comercial. Precisa emocionar e fazer sentido. E isso a Neriage fez muito bem.