O QUE MAIS FALTA PARA FIDELIZAR A DIVERSIDADE NA MODA? Assim como as tendências, criadores gordos, pretos e fora do padrão somem de acordo com as temporadas.

Tive uma reunião com uma marca para entender um pouco mais sobre as suas boas práticas na moda e pautava-se muito a liderança feminina, onde 50% dos cargos de chefia eram comandados por mulheres. Questionei: “desses 50%, quantas são mulheres pretas?”

A resposta já sabemos.

Se pegarmos a moda como pano de fundo para esse panorama, conseguimos entender como o mercado inteiro funciona. Veja os desfiles internacionais. As pessoas que ganham cadeiras e oportunidades pelos PR’s das marcas aqui no Brasil são as mesmas em anos. Mesmo lugares, mesmas falas, mesmas poses, mesmo pacto social…

Vez ou outra mandam alguém fora da curva para cumprir tabela. Mas, assim como as tendências, elas somem na próxima temporada. Já não fazem mais sentido ou simplesmente trocam por outra pessoa, para ser a “diversidade da vez”.

Faz um ano que escrevi um texto falando ser possível ter criadores de conteúdo trazendo um novo olhar, um sabor de história e conceito sem uma ótica normativa.

Se esperávamos mudanças drásticas na construção do mundo pós-recessão da pandemia COVID-19, caiu por terra todas as previsões de um mundo utópico.

Não pensem que apenas o poder aquisitivo é o bastante para se relacionar com as casas de Paris, NY, London e Milão. Muitos “comunicadores” são construídos a ferro e fogo com base nos seus privilégios.

Muitos não conseguem nem se aprofundar na história de um desfile sem usar adjetivos rasos como muletas. Que tudo é lindo, incrível e deuso todos nós já sabemos. Que as peças são com volume, texturas e recorte, isso também nós estamos vendo. O esforço do padrão é irrisório. Por outro lado, os menos favorecidos precisam provar diariamente o seu tamanho e valor. Mas mesmo assim, nem só o talento basta.

A sensação que tenho é que mesmo podendo ir além, os investimentos na moda preferem flertar com rostos “bonitos” do que mentes brilhantes. Sigo sonhando que chegará o dia em que os valores vão ser invertidos para os lados que devem. Sem prêmios de consolação para pesquisadores, mas oportunidades reais e escaláveis.

Mais uma vez perpetuamos um legado de segregação e alimentamos uma geração de reprodutores e não de criadores.

A moda merece mais que isso.

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