Se nos anos 60 André Courrèges olhava para uma moda com looks futuristas no melhor estilo Barbarella e viagens interplanetárias, a Courrèges de agora olha para o futuro digital, onde as telas nos servem de máquina do tempo, mas com atualizações do agora – ocupando muito mais espaço do que necessário em nossas vidas.
Considerando a agilidade da informação e tendo em vista as tecnologias como Inteligência Artificial e Chat GPT com debates calorosos – alguém ainda fala de metaverso? – percebemos que a moda também passa a ser agente de entendimento quando falamos sobre os avanços sociais. Desde janeiro, Nicolas di Felici desenvolve coleções com modelagem e ergonomia curvadas, numa espécie de que todos nós não estamos olhando mais para frente, mas para baixo, vidrados em concha nas múltiplas telas: iPhones, iPads e os Androids. Sem isso perderíamos o rumo.
Ao meu redor, trabalhando com comunicação e moda, raros são os casos de pessoas fora do celular. Esvaziamos muito da nossa capacidade social além do clique. Tudo é um vídeo para o TikTok, afinal, não sabemos qual conteúdo o algoritmo vai resolver deixar alguém muito famoso por quase nada. Selfies, filtros e mil aplicativos feitos em downloads em massa. Nos streamings, perdemos as contas de quantos temos assinados e também compartilhados com amigos.
O fato é que estamos caminhando para um futuro sem carros voadores, mas com humanos robotizados e robôs fazendo o papel de humanos. Para a Courrèges, não deixa de ser um alerta real. São os novos tempos. Veja que até o umbigo ganha destaque na coleção, fazendo com que a gente possa lembrar que muitos de nós viemos de uma conexão humana, e o cabo não era um USB.
Toda essa tecnologia e inovação poderia servir de alerta para resoluções como o reaproveitamento de tecidos e o que fazer com tanto descarte de coleção para coleção, para que daqui a não muito tempo, não estejamos precisando debater sobre a revolução das máquinas, mas sim, sobre a extinção de toda uma vida como conhecemos por causa da falta de recursos.
No fim do desfile da Courrèges em Paris, a IA disparou: “Você me vê? Eu te vejo”. Talvez até demais que deveria ou muito além do que possamos imaginar.