Pharrell, Louis Vuitton e o recorte racial na moda

Desde o falecimento inesperado de #VirgilAbloh em 2021, Olivier Rousteing ficou novamente sozinho como homem preto comandando uma grande casa de moda, a Balmain. Nesse período, o grupo LVMH, detentor da Louis Vuitton, ficou buscando um nome que conseguisse substituir com maestria e perpetuar o trabalho desenvolvido por Virgil na direção criativa masculina da marca.

O mistério acabou ontem, quando a francesa divulgou o artista Pharrell Williams para o cargo. Muito se falou nas redes sociais sobre a escolha. Alguns mais jovens buscavam um nome fresh, com visões de futuro e descentralização de uma pessoa famosa em cargo de liderança, usando alguns argumentos como a formação acadêmica para validar a ocupação de postos.

Antes de tecer essa linha de raciocínio, devemos entender qual a narrativa que a Louis Vuitton vem buscando no fortalecimento de marca, já que podemos observar que a construção e até mesmo relevância nas coleções masculinas vem sendo muito mais aclamadas que as femininas.

Não estamos falando de um new artist que apareceu após viralizar em um vídeo bobo no TikTok. O debate é sobre um artista preto de 49 anos, com feitos próprios na indústria da moda e também participações em casas como a própria Louis Vuitton e Chanel na era Karl Lagerfeld.

O recorte racial precisa ser revisto. Se olharmos para o fragmento de gênero, que tanto questionamos que estilistas homens continuam desenhando para marcas femininas, o auê na bolha fashion não foi o mesmo com a dança das cadeiras de outras marcas nomeando em grande escala homens brancos.

Imagina quando boa parte das pessoas descobrirem que no setor criativo muitos dos que reverenciamos não tem formação alguma em moda? Um acúmulo de boas experiências pode valer mais do que qualquer canudo.

E mesmo com todas essas experiências, uma pessoa preta sempre vai ser questionada sobre suas capacidades e visões de mundo. Tudo bem que a Louis Vuitton traçou uma estratégia de marketing e vendas, mas essa conversa não pode jamais ser apenas sobre algum monograma.

E sobre expectativas e críticas mais pontuais, vamos esperar até junho, na temporada masculina em Paris.

📸: GQ/Reprodução

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